CAUSAS DO SOFRIMENTO - III

Energia vital: a força que mantém a vida

Laís Bertoche

Este é o terceiro de uma pequena série de textos que buscam explicar as diversas causas do sofrimento e os meios que podem ser utilizados para o restabelecimento da harmonia.

No artigo anterior, lembramos que a iden-tidade e o sentido da existência são desen-volvidos nas relações com outros seres humanos, e que o caráter e as crenças que professamos foram construídos ao longo de nossas vidas, herdadas do sistema familiar e de vidas passadas.

Nesse texto vamos comentar sobre a ener-gia que mantém o corpo e as funções psí-quicas em harmonia e funcionando ade-quadamente.

Vivo ou morto?

Para o jovem que ingressou na faculdade de Medicina, o rito de passagem acontece ao atravessar o portal do Anatômico, o laboratório onde se estuda a organização física interna e externa do corpo humano. Olhando para aqueles corpos sem vida percebemos de imediato que algo lhes escapou – como que uma energia, que diferencia o corpo vivo daquele que já morreu.

Essa energia é conhecida por FORÇA VITAL, e é ela que organiza e possui a vida, dando a cada átomo, a cada célula, a cada per-cepção, emoção e pensamento o ímpeto de continuar sua vida e função, de um modo específico e ordenado.

A inteligência e o poder da força vital

Todo o tempo, a força vital dinâmica orde-na o corpo e suas funções de modo inteli-gente, buscando os meios adequados para manter a saúde do corpo, da mente e da alma.

A energia vital está presente em cada se-mente-pensamento enraizada e arquivada na mente; é também como a chuva, que a faz germinar. Mas é a nossa consciência que determina quais sementes serão cultivadas, produzindo a saúde ou a doença. A saúde floresce quando arrancamos as raízes das imagens perturbadoras (o medo, a raiva, a tristeza e a culpa) herdadas de vidas passadas, da família de origem e da sociedade em que vivemos.

O sofrimento frutifica na perturbação do entendimento e no enfraquecimento da vontade. Ao ultrapassar a capacidade da força vital para restaurar o equilíbrio, insta-la-se o conflito e a pessoa adoece.

A doença imprime um novo padrão vibra-tório que pode ser identificado na forma como a pessoa percebe e reage às diversas situações da vida e se reflete na maneira como ela expressa suas queixas e na sensa-ção exata de suas dores e incômodos – que são os sinais, sintomas e sensações obser-vados pelo profissional de saúde.

Sinais, sintomas e sensações

O sinal é objetivo e pode ser percebido por outra pessoa, sem o relato ou comunicação do paciente. Por exemplo: febre, inchaço, etc. O sintoma é a queixa subjetiva relatada pela pessoa, baseado numa percepção reconhecida como anômala, causada por uma patologia ou enfermidade, sendo, portanto, sujeito à interpretação. Exemplos: sensação de formigamento, uma dor, visão borrada, etc.

A sensação representa a vibração disso-nante, e pode ser definida como o processo que estabelece um significado aos estímulos internos ou externos percebidos. Diferente da pura percepção, a sensação é uma interpretação pessoal e subjetiva, uma experiência profunda que reflete o tumulto interno da pessoa. Tem sua origem em experiências, geralmente traumáticas (seja desta ou de uma vida passada) registradas na memória, e podem induzir padrões emocionais e comportamentais repetitivos através dos engramas.

O Níveis sintomáticos

De modo geral, a pessoa tende a viver e a atrair para sua vida as circunstâncias pró-prias de seu nível de experiência e desen-volvimento. Cada fase possui um modo de ter e de sentir prazer. Cada nível de consci-ência gera o seguinte e permite identificar o envolvimento do sujeito na experiência.

Uma pessoa que esteja vivendo de modo restrito e superficial, pouco receptiva às influências superiores, refletindo uma la-cuna maior entre o Ator (Self, a Alma imor-tal) e o personagem (ego). Já uma pessoa que esteja em conexão direta com o Ator, será tocada em todo o seu ser e facilmente terá experiências da totalidade, a nível da energia vital pura. Abaixo apresento as expressões mais comuns dos diversos níveis de consciência:







I. O NOME: o acúmulo de fatos sobre qual-quer coisa culmina na identificação dessa coisa. Trata-se do nível mais externo e su-perficial e o gasto de energia aqui é mínimo. No caso do paciente, sua queixa é limitada a uma parte de seu corpo e vivenciada apenas como uma condição diagnóstica (diarreia, por exemplo), sendo mais frequente nos pacientes terminais ou com uma patologia física abrangente.

2. O FATO: uma experiência no nível do fato envolve a percepção (sensação local), as emoções despertadas e a capacidade de relacioná-lo com outros, resultando no acúmulo de observações que contribuem para classificá-lo e posteriormente nomeá-lo ou identificá-lo. Exemplo: se o fato é ter pouco dinheiro, a origem do sofrimento pode estar no medo da pobreza.

3. O SENTIMENTO/EMOÇÃO: este é o nível de consciência mais frequentemente en-contrado. As emoções se expressam através da linguagem, das ações, reações e medos. As emoções básicas são o pesar ou tristeza (quando se crê que não pode lutar mais), a raiva ou ira (reação defensiva diante de situações ameaçadoras possíveis ou imaginárias) e o medo (que é uma anteci-pação de um fato passado, já registrado na memória). As outras são opostas ou varian-tes dessas: alegria, calma e segurança. Embora todo ser humano seja capaz de sentir qualquer emoção, elas são especificas para cada indivíduo em determinada situação.

4. ILUSÃO OU IMAGINAÇÃO: trata-se de elaborações mentais sobre percepções (crenças) e consequentes padrões de res-posta. A ilusão se expressa a partir de per-cepções e emoções que foram registradas na memória (personagens de vida passada e ancestrais). Por isso, muitas vezes a ilusão é uma experiência partilhada com toda a humanidade, promovendo o sentimento de pertencimento e cumplicidade. A mitologia, os contos de fadas, a arte, os filmes, etc. falam do sofrimento que foi gravado na memória ancestral (transpessoal) e no inconsciente coletivo. A nível pessoal a ilusão pode ser experimentada no senti-mento de culpa. A ilusão é percebida apenas nos humanos.

5. SENSAÇÃO VITAL: quando a energia vital toma um corpo e se materializa, dá exis-tência à sensação vital, capaz de ser perce-bida tanto pelo corpo quanto pela consci-ência. Caracteriza-se pelas sensações de pressão, contração, expansão, peso, luz, etc. Parece que a sensação vital não é es-pecifica dos seres humanos, mas comum a todos os reinos. Crianças maiorzinhas evo-cam as sensações vitais quando se divertem nos balanços, escorregadores, carroceis, etc.

6. ENERGIA VITAL: a consciência encontra manifestação na energia vital, no campo mórfico primordial, que vitaliza e organiza a Vida. Trata-se da vibração partilhada por todos os reinos materiais e imateriais da Criação. A energia vital é nossa herança comum, conectando substancias e orga-nismos em vez de diferenciá-los. Embora todos os padrões de energia sejam parte de uma fonte de energia universal única, cada ser tem seu próprio padrão, sua própria assinatura. No sofrimento, os sintomas da energia vital só podem ser percebidos no nível da sensação vital.

7. SÉTIMO NÍVEL, O CÓSMICO: a vivência neste nível é do espaço cósmico que apoia e/ou abriga o padrão de energia. É o nível do vir-a-ser. É o vazio e a vastidão, conten-do todo o potencial do universo. O mundo das ideias antes de qualquer manifestação; o vazio fértil do palco imediatamente antes do drama começar e imediatamente depois que ele termina. É o estado de prontidão; o silêncio que preenche o intervalo entre duas notas musicais. Pode ser observado nos bebês, cujo interesse está em tudo que têm movimento, velocidade, cor e som.

Objetivo da Terapia Transgeracional

A confusa expressão física e verbal da do-ença é a expressão cristalizada do distúrbio da força vital. Prestar atenção às coisas aparentemente “sem sentido” – aquilo que é estranho e peculiar – conduz o terapeuta a identificar a origem do desequilíbrio da energia, e, juntamente com o cliente, a desvendar as memórias traumáticas que o aprisionaram no passado. Este é o objetivo da Terapia Transgeracional.

Publicado no Jornal Prana em outubro de 2018.

 

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