ESSE ANO VAI SER DIFERENTE

Laís Bertoche


A passagem dos anos nos recorda que a vida é cíclica: assim como a noite sucede ao dia e as estações seguem-se umas às outras, nossa existência também retorna várias vezes ao mesmo ponto, até que tenhamos transformado a dor em sabedoria. O eterno retorno nos dá a oportunidade de ampliar a forma de perceber o mundo, mudar alguns hábitos e reavaliar modos de agir.

Neste ano estaremos vivendo sob a energia do Arcano XII do Tarô, o Dependurado, lâmina que apresenta um homem pendu-rado pelo pé, olhando as estrelas. Essa carta fala de acontecimentos inesperados, obrigando-nos a reconhecer que algo maior dirige nossas vidas e que somos impotentes diante do destino. Nesse momento, a única saída é refletir com calma e serenidade, buscando dentro de nós uma outra forma de olhar, perceber e avaliar as experiencias que se apresentam.

O Enforcado, como também é conhecido, nos fala do mergulho nas estrelas, no céu interior de cada um, a fim de que alinhados com a Alma imortal encontremos o caminho do coração, o único que nos leva de volta à Fonte do Ser. Mas este é um momento delicado, em que podemos nos sentir sem referência, sem raiz, sem chão. Estamos na noite escura da Alma, e muitas vezes ainda não aprendemos a encontrar a luz dentro de nós.


Crises e oportunidades

A dor do desconhecido entrou na vida da jovem. Realmente Luciana vivia momentos muito difíceis. Havia decidido que não so-freria mais e já tinha tudo planejado: na-quele dia acabaria com a angustia e o de-sespero.

Ainda meio confusa e sem compreender muito bem, percebe que está num leito de hospital. Aparece um médico sereno e tranquilo e após observar sua pouca idade, pergunta por que ela havia feito aquilo. A moça decide abrir-se e dizer a verdade:

- Não sei porque vim ao mundo. Vivo, mas não tenho vontade de viver. Se viver é sofrer, eu não quero mais.

O doutor se dirige para o monitor que mede a frequência cardíaca, indica o traçado na tela e pergunta se ela sabe o significado daquelas linhas:

- Sim; são meus batimentos, responde.

- Não. O traçado indica os ciclos da vida, disse apontando para o visor: se na vida você não tiver altos e baixos, você morre. E continuou:

- Você não está sozinha. Um dia entenderá porque está passando por tudo isso; você não pode é desistir.Nesse instante a jovem é tomada por in-tensa paz e o homem sai do quarto. Em seguida, entra a enfermeira para fazer o curativo e Luciana pergunta sobre o doutor que acabara de sair.

Para sua surpresa, ficou sabendo que na-quele dia o médico ainda não havia passado a visita. Deveria ser um enfermeiro, pensou, e começou a descrever suas características. Com gentileza e doçura, a enfermeira informa que esteve o tempo todo próximo ao quarto e que ninguém havia entrado ali.

A Jovem chora. Como o Arcano XII, ela estava pendurada pelo pé, mas seus olhos podiam mirar o infinito, e pela primeira vez depois de muito tempo, perceber a tarde linda que fazia lá fora. Agora sabia que quando imaginamos caminhar absoluta-mente sozinhos, ali está o doce amparo do Divino Amigo a dizer: não tema; você não está só. Confie. A lagarta precisa aceitar o casulo para se tornar borboleta.

Os ciclos do caminho

Vida é mudança. É crise. E crise é oportuni-dade de expandir a visão e as crenças sobre o mundo e sobre nós mesmos, obrigando-nos a sair do conforto do que conhecemos e nos lançar a campos novos, estranhos e ameaçadores, muitas vezes ocultos no nosso interior.
Aceitar a mudança é amadurecer. É mergu-lhar na terra e germinar. É florescer e fruti-ficar, expandindo perfumes e alimentando corações. A alma sabe que este é o tempo de confiar; que a luz sempre esteve no caminho, naquele que caminha e no cami-nhar.

 

Texto publicado no Jornal Prana em dezembro de 2018.

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