NATAL: TEMPO DE AMOR E PERDÃO

Laís Bertoche


Nesta época do ano em que se celebra a vinda de Jesus à Terra, é sabido que a Consciência Crística se derrama de forma mais direta no coração de cada pessoa e em toda Natureza, curando feridas antigas, amenizando sofrimentos e trazendo espe-ranças por melhores dias.

A orientação do Mestre para que nos a-memos uns aos outros como Ele mesmo nos ama é mais facilmente compreendida e realizada neste período, quando nossa consciência ampliada docemente nos in-forma que Seu reino está dentro de nós, brilhando para sempre.

Atores deste drama Cósmico, somos Espíri-tos Imortais a caminho da luz. Contudo, ao nos identificarmos com os personagens criados para uma única existência, esque-cemos a luz, a bondade, o amor, a sabedo-ria e a beleza que trazemos em nossos corações.

No afã de conquistar a felicidade, nos con-fundimos e imaginamos que possuir coisas, riquezas e poder sobre as pessoas preen-cherá a falta que sentimos de nós mesmos, de nossa Alma, e ao buscar a felicidade fora de nós, cometemos grandes erros.

Nesses momentos, perdidos de nós mes-mos, um grito de socorro sufoca nosso peito. Por imensa compaixão, o Pai Celestial infinitamente bom, cria as condições para que receptivos, participemos de Seu banquete de luz, amor e paz, amparando-nos pessoalmente ou enviando emissários que nos guiarão na Senda de retorno à nossa real natureza, como na história a seguir.

Sawabona e Shikoba


Conta a lenda que na tribo Babemba, da África do Sul, quando um nativo age de forma irresponsável ou injusta, é trazido para o centro da vila e, sem nenhuma con-tenção, ali permanece. Todos param seu trabalho e se reúnem em círculo ao redor da pessoa, e cada um por vez, relembra, com detalhes e precisão, cada boa ação, cada ato benéfico e humanístico que o acusado tenha realizado durante sua vida. Declaram ainda, perante todo o clã, seus bons atributos, sua generosidade e força de vontade.

Ao final, cada expositor diz a palavra “Sa-wabona”, que significa “eu respeito e valo-rizo você; você é importante para mim”, a que ele responde “Shikoba”, que significa “então eu sou bom e existo para você”.

Quando todos já se colocaram, cerimônia que costuma durar dias, o círculo tribal é desfeito, dando lugar a uma celebração de júbilo em que a pessoa transgressora é recebida e acolhida de volta à tribo. Esse ato de reconhecimento permite que o in-frator se reconecte com ele mesmo, lem-brando-se de que é amado, valorizado e que deve assumir seu lugar no grupo.




O Filho Pródigo

A infinita compaixão e o continuo cuidado de Deus por cada um de seus filhos, pode ser dimensionado quando o Mestre fala do quão valiosos somos para Deus, que sabe bem de nossas necessidades: se alimenta as aves do céu e veste os lírios do campo, como não cuidará de vós? Mas exorta-nos a buscar primeiro o reino de Deus que está dentro de nós (Mt 6:26,28,32-33).

Seu amor incondicional é tão absoluto que respeita nossa autonomia e liberdade para tomarmos decisões e traçar planos, mesmo que Ele não esteja incluído, como exempli-fica a parábola do “filho pródigo”:

Jesus conta que um jovem fascinado pelos prazeres do mundo, parte para um país distante, esbanjando e dissipando numa vida desregrada, a fortuna que lhe coube de herança. Ao final, desventurado e oprimido pela penúria, foi conduzido a apascentar porcos, desejando alimentar-se das vagens que lhes davam de comer, sem poder saciar-se (Lucas 15: 13-16).

Continua o texto dizendo que ele estava ainda longe quando seu pai o viu, e, movido pela misericórdia, correu-lhe ao encontro, lançou-se-lhe ao pescoço e o beijou. O filho lhe disse então: “Meu pai, pequei contra o céu e contra ti; já não sou digno de ser chamado teu filho”. Mas o pai disse aos servos: “Trazei-me depressa a melhor (primeira) veste e vesti-lha, e ponde-lhe um anel no dedo e calçado nos pés. Trazei também o bezerro cevado e matai-o; co-mamos e festejemos. Este meu filho estava morto, e reviveu; tinha-se perdido e foi achado”. E começaram a festa (Lucas 15: 20-24).

Carentes de Amor e perdão

Como o filho pródigo, mais cedo ou mais tarde nos damos conta de estarmos desco-nectados de nossa essência, mergulhados e identificados com as alegrias e sofrimentos do mundo físico, trocando por desejos fugazes e passageiros a oportunidade de uma vida infinita e repleta de realizações. Ao retificar o rumo, reencontramos a ale-gria, a paz e a vontade de fazer o melhor de nossa existência.

Ao perceber que a pessoa equivocada está pronta para a viagem de volta a si mesma, nem o povo Babemba, nem o pai da pará-bola, agrava o seu sofrimento pelos erros já cometidos, mas concede-lhe o perdão, desejando que todo o sofrimento vivido tenha um fim imediato.

Assim como o pai, os membros da tribo nos recordam da nossa origem divina ao dize-rem: eu respeito e valorizo você; eu amo você. E o culpado pode finalmente aceitar-se como pessoa boa e importante para o outro: “Sawabona” e “Shikoba”.

Neste tempo de festa, que possamos cele-brar a alegria e a abundancia do amor in-condicional de Deus, o Pai esperançoso que apreciando nosso livre arbítrio, aguarda pacientemente nosso retorno à Ele, até que lembremos que somos Seus filhos e que seu Reino está dentro de nós; e que sua infinita misericórdia se derrama continuamente sobre o santo e sobre o pecador.

Texto publicado na Revista Carioca em novembro de 2018.







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