A MAIOR AVENTURA DA VIDA

Saudações e amor para todos. Que bom ver tantas almas antigas em corpos jovens interessadas em aprofundar a vida espiritual.

Nossa palestra será sobre alguns conceitos espirituais de Gurudeva que são bons de vocês saberem bem cedo na vida espiritual. Quando faço aconselhamento percebo que até devotos de longa data às vezes não entendem isso. O título da palestra é "a maior aventura da vida".

É claro que a maior aventura é o caminho espiritual. Mas como eu disse, é melhor a gente esclarecer alguns conceitos para ir fundo na vida espiritual.

Quando me passaram o tema da palestra, lembrei a cena do "Mágico de Oz" em que Dorothy, o Homem de Lata e o Espantalho caminham pela estrada e chegam a uma encruzilhada. Dorothy pergunta: "Que caminho devemos seguir?" O Homem de Lata responde: "Não faz diferença o caminho que seguimos se não sabemos para onde vamos." Esperamos que até o fim da palestra vocês saibam o caminho a seguir e para onde vão, se é que ainda não têm certeza.

Vamos começar falando do que queremos da aventura da vida. Faça esta pergunta a si mesmo. Todos sabem a resposta certa. A resposta certa é: "eu quero Deus." Mas muitos aqui talvez digam: "Eu quero Deus, mas também quero outras coisas." Tem alguém aí nesta situação? Bem, nós queremos algumas outras coisas, como um emprego, entrar para determinada escola ou ter um relacionamento sério. Mas e se eu disser que na verdade você não quer nada disso - e não quer mesmo? Se você está pensando: "ora, mas como é que ele pode saber o que quero?" - acredite, eu sei o que você quer.

Pense no que você quer. Por que acha que quer um emprego? Por que acha que quer viajar? Por que acha que quer um relacionamento? Você quer um emprego para ter um senso de segurança. Quer viajar para ter a sensação de liberdade, de se divertir. E quer um relacionamento sério para sentir amor.

Então... não são coisas o que você quer. São os sentimentos que acha que vai ter quando conseguir as coisas. Certo? Na verdade você não quer uma pessoa, um lugar ou uma coisa; quer o sentimento que tem quando consegue isso.

Um exemplo simples: digamos que você realmente queira um novo iPad. Eu curto muito o meu, por isso estou usando como exemplo. Você quer muito um iPad mas não tem dinheiro para comprar. Então seus pais lhe dão um iPad de aniversário. O que você sente? Puxa, que felicidade!

Vamos analisar isso: o iPad nada mais é do que alguns pedaços de metal e de plástico com um chip de computador. Dentro dele tem alguma vibração mágica de felicidade eterna? Não, é só uma coisa.

Quando examinamos com atenção, vemos que é realmente interessante. O Mestre chama isso de consciência de contraste. Você não possui uma coisa que quer e é infeliz porque não a tem. Daí você consegue aquilo e fica feliz. Isto é consciência de contraste. Eu não tinha uma coisa e estava infeliz; agora tenho e estou feliz. Vamos examinar isso porque quando pensamos bem, é uma bela pegadinha que Deus projetou aí.

O Mestre diz que a alegria pura é a qualidade inerente à alma, à consciência na verdade é bem-aventurança ou êxtase. Temos isso dentro de nós, mas então por que não o vivenciamos? Isso é algo original na consciência transcendental de tranquilidade da alma, mas em geral nossa mente vibra com tantos pensamentos e sentimentos que não consegue registrar a bem-aventurança da consciência de calma.

A mente está ocupada tentando bolar como conseguir um iPad ou seja qual for o desejo do momento. A mente está tentando descobrir como conseguir isso... talvez trabalhando ou pedindo... A mente está ocupada tentando conseguir aquilo que deseja ou remoendo o fato de não o ter. E o que acontece quando o desejo é satisfeito? A mente já não está mais ocupada tentando bolar como conseguir aquilo, nem se lamentando por não ter, porque o desejo foi satisfeito. E o que acontece então?

A mente se aquieta. E quando a mente se acomoda, pelo menos por um tempo, uma borrifada da alegria da alma consegue chegar até ela. Vocês percebem como funciona? É uma pegadinha e tanto! "Eu não tinha o iPad e era infeliz. Agora tenho o iPad e sou feliz. Obviamente, foi o iPad que me fez feliz."

Não é nada disso. Não foi o iPad; ele apenas serviu como meio para sossegar um pouco a mente, para que parte da alegria da alma chegasse até você.

Talvez nem seja este o objeto que você quer - mas certamente não é o objeto que o fará feliz. Como diz o Mestre, ele só serve de picareta para perfurar uma camada de sua consciência, para que entre um pouco da alegria da alma. Se você realmente acha que são as pessoas, os lugares e as coisas que vão fazê-lo feliz, em algum ponto da vida vai descobrir, com tristeza, que se enganou.

É o que acontece com as pessoas ao longo da vida, porque acham que "é isso" que vai lhes trazer felicidade. Ficam indo de um "é isso" para outro e outro, porque quando conseguem "isso" a mente se acalma um pouco e elas sentem alguma alegria, mas não dura muito. Então criam outro desejo para ficarem infelizes e depois felizes quando conseguirem mais um "isso".

Há uma citação do Mestre que sempre foi muito importante para mim. Acho que é uma de suas citações mais motivadoras. Ele diz: "Não deixe que a vida o engane. Saiba o que você realmente quer. Saiba que o que realmente quer é o sentimento de amor, paz e alegria, que na verdade é a presença de Deus em você."

Saiba o que você realmente quer! Vá diretamente atrás disso. Não tente ir atrás disso através de todos esses meios indiretos.

Uma das razões porque eu quero tanto que entenda o conceito do que você realmente quer é porque você terá desejos. Todos estamos aqui no plano humano - não estaríamos se não tivéssemos desejos, pois são eles que fazem com que reencarnemos. Todos temos desejos. Mas como eu disse no início, quando entramos no caminho espiritual, nós sentimos: "sim, desejo Deus, mas também desejo coisas." Há um conflito interno. Temos o desejo por Deus, mas temos desejos por coisas, objetos.

Recentemente conversei com um devoto em Hidden Valley. Durante o aconselhamento ele me perguntou se ter ambição era conflitante com o desejo por Deus. Eu lhe perguntei que tipo de ambição ele tinha. Ele ambicionava coisas boas. Queria lecionar numa universidade, queria ter estabilidade financeira e um relacionamento sério. Eram coisas boas, mas o fato de ter outros desejos além do desejo por Deus estava criando um conflito nele. Quero que você entenda que isso é perfeitamente natural e que devemos tentar realizar todos os desejos bons e nobres. Isto não é conflitante, mas você tem que saber exatamente o quê essas coisas podem proporcionar e até que ponto.

Não fique dizendo: "Sim, eu quero Deus mas também..." Quando eu ouço isso, lembro de meus tempos no ashram de postulantes com Brother Premamoy, que na época era o "irmão da casa" para todos os monges. Ele explicava os princípios espirituais para os monges postulantes e de vez em quando um deles dizia: "Sim, Brother, eu entendo, mas...." Até que um dia ele disse: "Não sejam discípulos ‘mas’. Não digam: ‘eu quero Deus, mas’. Digam simplesmente ‘eu quero Deus porque sei que neste desejo se realizará todo o resto.’

Este é o primeiro ponto que quero mesmo que todos entendam: o que vocês realmente querem é Deus, mas é perfeitamente normal tentar satisfazer os outros desejos. Mas o verdadeiro desejo é por Deus.

No Ocidente o Mestre batizou sua organização de Self-Realization Fellowship. O segundo ponto que quero que todos compreendam perfeitamente é quem você é e quem não é.

O que é este Self (Eu) com S maiúsculo? O Eu Real é quem realmente somos. Para dizer a verdade, não podemos dizer quem é o Eu porque estamos limitados aos confins da mente, dos conceitos mentais. E o Eu, o Eu Real está muito, muito além de um mero conceito.

Falarei um pouco do eu que você conhece... o pequeno eu, o eu pessoal, o ego ou a pseudo alma. Se analisarmos isso, o eu pessoal nada mais é do que um pensamento construtivo. Pense em quem você é: "Nasci no dia tal e em tal lugar. Fui ao colégio tal. Aos 13 anos tive um acidente de skate. Aos 15 conheci Fulana de tal. Estamos juntos desde aquela época. Morei em tal e tal lugar." Isto constitui a história de sua vida. Este é quem você acha que é, certo?

É muito interessante mesmo a gente achar que é isto. O psicólogo behaviorista B.F. Skinner disse: "Somos a soma total de nossas experiências passadas." Provavelmente ele não se deu conta que falava de experiências das encarnações. Que o pequeno eu, o pequeno eu pessoal, o ego, é a soma total das experiências passadas. Então dá para ver como tudo é efêmero, porque você cria a história de sua vida com todas essas lembranças. É só um punhado de pensamentos que têm relação, que têm ligação - isso é quem você pensa que é.

O Mestre disse: "As idéias são finitas, transitórias - se movem e mudam no tempo e no espaço. Mas a substância, a consciência de existência que perdura, que percebe e conhece a idéia.... esta é constante." Então as idéias que temos, como diz o Mestre: " são transitórias." Mudam o tempo todo.

Faz pouco conversei com um jovem que não sabia se aceitava um emprego no exterior ou não. Também estava tentando decidir se ia começar um relacionamento e tinha uma questão não resolvida com seus pais. Falou e falou sobre estes assuntos. Finalmente, ele disse: "Estou com muita dificuldade de lidar com tudo que está acontecendo." Eu respondi que na verdade ele não estava passando por nada disso.

O jovem ficou quieto por um tempo e depois perguntou: "Como assim?" Respondi: "Bem, pense um pouco. Investigue. Quem está passando por isso? Quem você acha que é? Você não é seu carro, nem sua companheira; não é o que pensa, nem o que sente." Ele ficou mais um pouco em silêncio e então disse: "Estou com medo. Isto é realmente apavorante. Na verdade, não sou nada." Retruquei: "Você está absolutamente certo. Você não é nada, apenas quem realmente é ... consciência de bem-aventurança pura, perfeita, satisfeita."

É bom analisar isso cedo, para você não passar a vida achando que é todas as lembranças, todos os pensamentos que você não é. Vai chegar um ponto onde verá que é tolice pensar que é um amontoado de pensamentos interligados, quando na verdade você é a eterna consciência que o torna consciente de todos os pensamentos.

Será que realmente somos uma parte da Consciência Divina neste momento? O Mestre é bem claro. Ele diz: " somos parte de Deus tanto agora como sempre seremos. Só precisamos aperfeiçoar nosso conhecimento." Pense nisto! Deus - nós - nossa consciência divina é tão perfeita agora como sempre será. Agora mesmo contém todas as qualidades divinas, tão divinas como sempre serão!

Nossa amada presidente, Sri Mrinalini Mata, ao falar sobre a vida espiritual disse: "É Deus buscando Deus." É um conceito lindo.

São Francisco de Assis disse a mesma coisa em outras palavras: "O Um que você procura é o Um que está procurando." Lindo, não é? Você é pura consciência divina agora. Não é algo que será enxertado em você, vindo de fora. Está bem aqui! É o núcleo de seu ser!

Talvez você diga: "Não sinto que Deus está em mim." O Mestre explica porque não sentimos isso. É porque nos identificamos com o que não é nosso ser, nosso Eu Real. Deixamos que a consciência se identifique mais com a mente, com o corpo, com o mundo externo e por isso pensamos que somos essas coisas.

Há alguns anos eu lia o jornal Los Angeles Times e lia o caderno infantil, pois achava que era o único que valia a pena. As crianças mandavam adivinhações e desenhos. Uma criança mandou uma adivinhação que eu nunca esqueci. Vamos ver se alguém sabe a resposta: "Imaginem que você está num quarto sem portas, nem janelas. Como é que você consegue sair?"

Resposta: "Pare de imaginar!"
Você para de imaginar e sai.

Como perceber a presença de Deus? Parando de imaginar que somos outra coisa. Pare de imaginar que você é um corpo com um cérebro; alguém que tem todas essas coisas, lugares e relacionamentos. Não é que não possamos ter isso, mas não devemos nos identificar a ponto de ser isso o que pensamos que somos. Então precisamos parar de imaginar que somos tudo isso.

Há uma citação do Mestre que eu acho muito forte. Não sei como consegui passar tanto tempo sem notá-la. Há alguns anos, quando eu a li, achei que era incrível e muito forte. O Mestre inicia citando o livro de Provérbios da Bílbia: "O homem é o que pensa". Dependendo do que o devoto pensa de si mesmo - livre ou prisioneiro, apegado ou não, inquieto pela paixão ou livre de todo desejo, esta é a consciência adotada pela alma identificada com o corpo. Pense em si mesmo como o Eu Real." Pense em si mesmo como Eu Real; não pense: "estou inquieto" ou "estou completamente preso nos desejos." Pense em si mesmo como o ser que realmente é. "Pense em si mesmo como o Eu Real, a consciência pura e divina que você realmente é."

Todos os grandes seres vêm para isso. Não é para tentar fazer com que alcancemos a iluminação ou criar algum estado mais elevado, mas simplesmente para que nos demos conta de quem já somos!
Um guru e seu discípulo estão sentados embaixo de uma árvore, na Índia. O discípulo pergunta ao guru: "Guruji, quem sou eu?" O guru responde: "Quem você acha que é?" "Gurudeva, o senhor sabe que não sei quem sou. Por que me pergunta isso?" E o guru diz: "Não estou falando com você. A consciência está chamando a grande Consciência para falar da consciência."
Ele está ressaltando quem realmente é! É isso que todos os grandes seres vêm nos mostrar - quem realmente somos. Eles falam com o verdadeiro Eu; falam com o Eu Real. Falam com a consciência, por meio da Grande Consciência, sobre quem somos: consciência. Quando entendemos isso, é quem somos.

De vez em quando o telão é usado nas palestras da noite. Vemos o orador no telão e ele nos dá todo tipo de instrução espiritual, etc. Você presta atenção durante uma hora, mais ou menos. Depois o orador vai embora e o telão é desligado, mas fica aqui. É mais ou menos assim conosco. Há a tela de nossa consciência; uma tela de consciência de pura calma. Todos os pensamentos, sentimentos e tudo mais que acontece é projetado na tela. Pensamentos e sentimentos vão e vêm. Quando desligamos tudo - e a gente tenta conseguir isso na meditação profunda - o que fica é a tela - aquilo que realmente somos.
Não se identifique com o que é projetado na tela. Identifique-se com a própria tela. Podemos pensar que ser uma tela em branco talvez não seja muito interessante. Mas temos que lembrar que a tela, a qualidade inerente da tela é a eterna consciência absoluta de bem-aventurança. Disto é feita a tela de nossa consciência. No entanto, nós achamos que queremos ou que estamos interessados no que é projetado na tela. Volte sempre à consciência de quem você realmente é.

Alguém disse: "Os pensamentos vão e vêm, mas a consciência não tem para onde ir." É como a tela. As imagens vão e vêm, mas a tela não tem para onde ir. É o mesmo conosco. Somos apenas consciência interior, tranquila e imóvel. É por isso que o Senhor Krishna disse: "Ancore-se no que é imutável." Esteja ancorado em quem você realmente é!

A maioria das pessoas se identifica tanto com seus pensamentos e sentimentos que acaba por pensar que é isso. Se surgem pensamentos inquietos na meditação, elas pensam: "Ah, sou inquieta." Se estão zangadas: "Sou muito zangada." Não, nada disso. Elas estão apenas registrando a raiva na tela da consciência. Nós nos identificamos tanto com o que pensamos que achamos perfeitamente natural a mente estar sempre conversando e as emoções acontecendo o tempo todo. Não é natural! Não é nada natural. Nosso estado natural é a verdadeira calma transcendental. É quem realmente somos.

O segundo ponto que Eu realmente gostaria que todos assimilassem é muito importante: compreenda quem você é e não quem acha que é. VOCÊ É A CONSCIÊNCIA DIVINA E PURA. Insisto: assimile quem você realmente é.
Falo de se identificar com o Eu Real, com a consciência, com a quietude, com a calma transcendental e não de se identificar o tempo todo com a inquietude, com o eu pessoal, com o eu inferior, com o ego.
E como fazer isso? Repito que do jeito que Deus fez as coisas, é uma tremenda pegadinha... não é nada justo!
Como dizia o Mestre, "temos que aperfeiçoar nosso conhecimento." E como fazer isso? Este conhecimento não virá pela mente, pois como já dissemos, a mente é limitada. Mas a consciência pura é ilimitada. Então não dá para a limitada mente humana conceber a ilimitada consciência pura. Se a mente não consegue conceber, nem perceber o Eu Real, então como percebê-lo?
Num dos cânticos do Mestre lemos: "eu Te encontro por trás das franjas da minha mente" O que significa "por trás da mente"?
Examinemos a mente. Alguém disse que a mente é uma máquina de bolhas de pensamento. Só fica borbulhando pensamentos. É uma descrição muito boa. Como já falei, na verdade a consciência permanece em estado imóvel, na transcendental consciência de calma. Mas a máquina de bolhas de pensamento cria um monte de ondulações bem no centro. O que acontece é que nos concentramos nas ondulações e não no que está por trás, ou seja - na consciência de calma.
Temos a expressão "perdido em pensamentos". Na maior parte do tempo, estamos aí... perdidos em pensamentos. Nas ondulações, nas bolhas de pensamento que saem das ondas. Ficamos tão focados e conscientes destas coisas que nosso campo de consciência inteiro fica "dominado" e é só o que vemos. Por isso, quando observamos os pensamentos podemos começar a ter consciência da "franja" de pensamentos e acalmá-los. E ir além das ondulações da mente.

Em outro cântico o Mestre diz: "Quando descansam os pensamentos eu O vejo" Quando os pensamentos descansam, isto é, quando as bolhas de pensamento finalmente param de borbulhar... quando vão descansar, é então que vemos os rios da calma.
Você provavelmente está pensando: "Mas como parar a borbulhagem de pensamentos?" E aqui está uma das coisas mais bonitas do caminho espiritual. Há muitos tipos de caminho espiritual, dependendo da natureza de cada um. Pode ser pela devoção, pela meditação, pelo serviço, pelo discernimento, pela entrega. Há várias abordagens diferentes, mas todas têm o mesmo objetivo: aquietar as ondulações e perceber a consciência de calma.
Há muitas abordagens, mas nesta palestra vou falar só de duas, pois acho que são bem diretas. Ambas lidam diretamente com a consciência. Elas são:
* quietude na meditação
* consciência testemunha

Primeiro vou falar da quietude na meditação, porque é um dos aspectos mais negligenciados. Com isso quero dizer que é a parte da meditação que recebe menos atenção, menos tempo.
O que significa quietude na meditação? Brother Bhaktananda enfatizava muito este aspecto. Ele o definia assim: "Quietude significa absorver-se em sentir a presença de Deus no olho espiritual.... sem pensar, sem cantar, sem orar. É na quietude que realmente comungamos com Deus como paz, alegria e amor."

A mente dirá que isso é uma perda de tempo. Que você devia estar fazendo alguma outra coisa. A mente nada mais é do que ondulações de pensamento e quando percebemos isso, as ondas começam a cessar. Mas cada ondulação vai tentar salvar o seu "emprego", e vai fazer de tudo para continuar ali na sua cabeça: "Você devia estar orando, cantando, praticando uma afirmação; devia estar no templo, ou..." Qualquer coisa para que as ondulações continuem. Tudo isso tem sua hora, mas quietude na meditação quer dizer não ter pensamento nenhum. Não deixe que nenhum pensamento, por mais elevado que seja, substitua a quietude da meditação, porque um pensamento é só isso. É só o pensamento. É transitório, como dizia o Mestre. É mutável, está só passando por ali. A quietude é constante; está sempre ali. A presença de Deus está na quietude. Brother Bhaktananda disse que é na quietude que ocorre a comunhão com o amor, a paz, a alegria e o sentimento de expansão.

Aqueles de vocês que são abençoados por ter a kriya ou as outras técnicas de meditação, usem-nas. Usem as técnicas; concentrem-se nelas, pratiquem a concentração na meditação o melhor que puderem. É o objetivo das técnicas; acalmar a mente para chegar à quietude. Usem as técncias para explorar a consciência além da mente. Com "explorar a consciência", não quero dizer que devemos buscar uma experiência fenomênica, e sim explorar a presença de Deus que está logo além da mente. Usem as técnicas para isso.

Se você chegar na quietude e não deixar que a mente o convença a continuar trabalhando, estará num lugar onde não perceberá nada, exceto o fato de existir. É seu "estado de ser". Tudo que você realmente é... puro "estado de ser". Em sânscrito é sat - pura existência e é o que você é. Em si, isto é uma tremenda realização. "Eu existo. Sempre existi. Existo agora e sempre existirei."

Há muito a explorar - e com explorar quero dizer deixar aflorar o que vem na quietude. O Mestre disse: "Quando você vai além da consciência do mundo e vê que não é corpo nem mente, mas que apesar disso está mais consciente do que nunca de que existe - você é esta divina consciência."

Na meditação temos as técnicas que nos ajudam a chegar à quietude e à tranquilidade, mas não é nada fácil durante o dia, com todas as atividades.
Como levar quietude e calma para a atividade? Você pode começar indo para o ponto de quietude na meditação e quando acabar a meditação sentir que vai levar algo muito sagrado e precioso para fora dela, porque é a verdade. Você está levando a presença de Deus, a quietude. Mesmo que não consiga mantê-la o dia todo, mantenha o conceito de tentar criar um continuum a partir da meditação. Mantenha o continuum de quietude. O Mestre disse: "Com a yoga o devoto deve se estabelecer na percepção da ventura da alma e na indiferença ao corpo, mesmo que esteja desempenhando atividades mundanas."

É o que chamo de consciência testemunha. Há duas coisas que ajudam a alcançar este estado:

A. Japa - repetição de um pensamento devocional ou de um mantra: "Om Guru! Om Guru! Om Guru!" "Eu Te amo, Senhor! Eu Te amo, Senhor! Eu Te amo, Senhor!" "Om!Tat! Sat! Om! Tat! Sat! Om! Tat! Sat!" É uma repetição mental constante que mantém as ondulações mentais na mesma direção. Quando todas vão na mesma direção é mais fácil entrar na quietude. É uma grande ajuda.
Para Brother Bhaktananda, uma coisa importante é fazer japa de coração. Repita de coração! Não é só porque você quer o sentimento de devoção. Quando você sente que fala do coração, a energia vai para o 4º chakra. Isto ajuda a centralizar a energia nos centros mais elevados. Pratique de coração.

B. Outro grande auxílio para a consciência testemunha é algo que o Mestre dizia a Sri Daya Mata sempre que ela ia lhe falar de problemas. Ele dizia: "mantenha a atenção sempre aqui." Isto é: durante o dia, mantenha sempre parte da atenção no olho espiritual. Isto impede que você seja totalmente jogado no mundo e mantém a energia fluindo para os centros mais elevados.
Estes são dois grandes "auxílios" para praticar a consciência testemunha.

Uma das citações do Mestre que no início me inspirou a praticar a consciência testemunha e tentar estar consciente ao longo do dia é do livro "Deus fala com Arjuna". É esta: "A alma é só uma testemunha; não se envolve nas operações da inteligência, da mente e dos sentidos humanos. É uma observadora do funcionamento da Natureza Cósmica no corpo. A alma é só uma testemunha". Ela só observa; não participa.

Como cultivar a consciência testemunha? Digamos que você está no Starbucks, sentado no lado de fora, olhando as pessoas que passam pela calçada. Algumas pessoas atraem mais a sua atenção do que outras, mas você não sai correndo para falar com as pessoas que acha mais interessantes, não é? Você está sentado ali, só observando todo mundo passar. Não tem que se envolver. É o mesmo no caso dos pensamentos. Você pode se recostar na cadeira do Starbucks e observar os pensamentos passarem; não precisa se envolver. É como o correio eletrônico. Você não precisa responder um spam. Você simplesmente deleta. A maioria de nossos pensamentos é spam, como nos emails. Não dê atenção a eles. Se fizer isso... Um pensamento não tem vida própria.... É só um pensamento. O Mestre disse: "são transitórios..." O pensamento vai passar, mas se você o abrir e colocar a atenção nele, isso é pura energia - você dá vida ao pensamento. Ele vai ficar ali. Se você não lhe der energia com sua atenção, ele vai se autodeletar. Os pensamentos passarão porque não existem sem sua atenção, sem sua energia.

Não é tão difícil como você pensa, pois isso acontece espontaneamente o tempo todo. Parte de você sabe que está aqui ouvindo a palestra. O que você acha da palestra é um assunto completamente diferente, mas há uma parte sempre consciente de sua presença aqui.

Recentemente falei com um devoto que é psicólogo. Conversamos sobre a consciência testemunha que acontece o tempo todo. Ele disse: "Você pode ter um ataque de raiva e há uma parte sua que sabe que você está tendo um ataque de raiva." Então é basicamente perceber que devemos ter mais consciência da consciência que está consciente do ataque de raiva. É um bocado de consciência, mas basicamente é isso - estar consciente do que ocorre. Acontece o tempo todo e é simplesmente ter consciência disso. Não é tão difícil como parece.
Quem é a voz da testemunha silenciosa? Já dissemos que o Mestre falava sobre idéias transitórias e mutáveis, etc., mas ele também dizia que a substância inerente, a consciência de nossa existência, que perdura, que percebe e que tem conhecimento das idéias é constante. Isso é a testemunha. Na verdade, somos a consciência constante, inerente, que perdura.

Há pouco tempo um devoto disse: "Desde a infância é como se eu observasse a mim mesmo." Algum de vocês já sentiu isso? Que meio que se observa passar pelas experiências da vida? Bem, isso é porque há a consciência constante da qual falamos - a tela - e tudo é passado ali. Estamos ligados nisso? "Não, é só como se fosse alguém observando eu ir pela vida."

E você percebe que quem o observa ir pela vida é a consciência absolutamente perfeita, a Consciência Divina, neste exato momento. Quanto mais você estiver consciente, quanto mais se identificar com isso através da meditação e da consciência testemunha, mais eliminará tristezas e mágoas na vida. Se não tiver esta consciência e se identificar com as histórias de sua vida, estará sempre pensando: "Ah, eu devia ter feito aquilo. Oh, puxa, eu fiz isso de novo! Ah, não...."

A seguinte citação de um santo tem um sentido enorme para mim, é muito significativa: "Minha natureza humana se desenvolve segundo seu karma; mas eu continuo como sou." É muito bonita e profunda. "Minha natureza humana se desenvolve segundo seu karma; eu continuo como sou." Estamos falando da consciência de apenas observar o que fazemos ao longo da vida. É quem realmente somos.

Então, meditação e atividade - o terceiro ponto é para quem tem que voltar à transcendental consciência de calma ou quietude de nossa real natureza. O Mestre nos deu tudo para percebermos que a natureza calma é quem realmente somos, para que nos concentremos nisso. Por mais fantástica que seja a consciência testemunha na meditação, é apenas um meio para o fim, para o objetivo da yoga... união com Deus. Quando você pensa em união, sabe que há duas coisas que se unem, que se mesclam.

O Mestre disse: "A religião nada mais é do que a fusão da individualidade na universalidade." Percebam que o Mestre não diz para destruir ou superar a individualidade. Nada disso. Ele diz: " a fusão de nossa individualidade na universalidade" É expandir o eu inferior no Eu superior. É a gota voltando ao oceano. Não deixa de existir, apenas se expande. O mesmo acontece conosco. Estamos apenas expandindo a natureza individual de novo na natureza universal. Por isso amamos, por isso sentimos compaixão, por isso queremos ajudar o próximo. Faz parte de nossa natureza universal. É assim: "amo a mim mesmo naquela pessoa. Estou ajudando a mim mesmo naquela pessoa. Sinto compaixão por mim mesmo naquela pessoa." Tudo é a mesma consciência. É voltar à fusão na universalidade.

Eu gosto muito do jeito que um amigo meu hippie descreve isso. Éramos muito amigos na década de 60 - é claro que na época a grande coisa para os hippies era amor, paz e expansão da consciência. Há alguns anos meu amigo disse que aquilo não teve a a ver com expandir, mas sim com contrair a consciência. Ele estava absolutamente certo.

Nosso verdadeiro estado, nossa verdadeira natureza já está expandida. Mas o forte senso de individualidade contrai a consciência universal - o eu, o mim e o meu. Quanto mais nos desprendemos disso, maior é a fusão na universalidade. Intuitivamente, sabemos que a fusão no Eu Real é o objetivo da vida. Mas mesmo que saibamos em sua maior parte, o caminho espiritual pode ser muito sutil, o que nos leva ao quarto e último ponto.
É um ponto muito vital e comumente desprezado até pelos devotos mais antigos. No começo parece muito simples: "quero Deus, então sigo o caminho espiritual." Mas na verdade há 2 caminhos espirituais:

* Um caminho espiritual virtual
* Um caminho espiritual genuíno

Na espiritualidade virtual a pessoa parece espiritual mas não tem profundidade, pois ainda não se convenceu totalmente de que o que realmente quer está dentro de si. Então ela faz todos os movimentos e rituais das coisas espirituais - vai ao templo, lê livros espirituais, medita - e tudo isso parece muito espiritual, mas a pessoa ainda está procurando no mundo algo que a realize.
Depois de décadas de caminho, alguns devotos ainda se perguntam por que não se aprofundam. Este é um dos motivos de não saírem da zona de conforto da espiritualidade virtual: ainda tentam encontrar realização no mundo e ao mesmo tempo ser espirituais.

Falamos de como é possível lembrar todas as etapas que você vivenciou para criar a história de sua vida. Depois de entrar para o caminho espiritual é igual. Você evidencia tudo lendo um livro, indo ao acampamento dos jovens, servindo no templo ou centro e assim por diante. Então essas lembranças também passam a fazer parte da história de sua vida. Como tudo isso parece muito espiritual, a mente aceita que eu sou uma pessoa espiritual e eu acredito no que a mente me diz.

É um ponto interessante. Um santo falou sobre isso de acreditar na mente quando ela diz que você é espiritual porque medita, serve no templo, etc. O santo disse: "A mente é uma traidora. Quando mais devota parecer, maior a traição." Isto é um desvio.
Quero esclarecer que não estou dizendo que não se deve fazer isso - por favor, não me interpretem mal. Devemos, sim, fazer todas essas coisas espirituais como ler, servir, meditar e assim por diante, mas o que estou dizendo é que devemos perceber exatamente o que isso faz por nós e construir em cima disso. Tudo isso ajuda, mas o simples fato de fazer essas coisas não constitui verdadeira espiritualidade.
Repito: a espiritualidade genuína é procurar o que você quer no lugar onde isso pode ser encontrado - internamente. Fazer todas as coisas externas - meditar, ler - não é o que vai fazer com que você se sinta espiritual. Quando você está no caminho da espiritualidade genuína a vida fica muito linda, pois você curte tudo. Os relacionamentos são mais profundos porque você está satisfeito internamente e só quer compartilhar isso com alguém, em vez de querer algo de outra pessoa ou exigir que a pessoa o ame.
Não tem a ver com querer alguma coisa porque você se sente incompleto. Na espiritualidade genuína você se torna um doador. Os doadores são felizes; os que tiram não são. Você se torna muito mais criativo porque está em sintonia com a pura consciência criativa que está dentro de si. Fica mais eficiente porque a mente não é mais tão inquieta.

Assim, se você tem uma mente de espiritualidade genuína, está realmente vivendo a vida. Mas se está vivendo a espiritualidade virtual, está tentando viver. Está só tentando tirar alguma coisa do mundo. Está sempre tentando! Você não está vivendo! Está só tentando. Não está vivendo. Está só tentando pegar alguma coisa para sentir que está vivendo, mas isso nunca vai adiantar - só pode ser encontrado na Fonte.

Imaginemos um devoto jovem, ator, que membro da SRF há uns 8 anos. Ele frequenta o Templo de Hollywood e num evento chamado "Espiritualizando sua vida na indústria do entretenimento", um dos temas é a rejeição, porque temos que lidar com isso o tempo todo... o script não é aceito ou o papel é dado a outro ator ou seja o que for.... Bem, o jovem comentou que lidava com a rejeição fazendo tudo para o Mestre.
Muito tempo depois, ele me pediu aconselhamento: "Brother, fiz vários testes e achei que tinha ido super bem, mas não consegui nenhum papel. Estou muito chateado e frustrado!" Eu pensei - será que ele realmente faz tudo para o Mestre? Quantos se identificam com isso? "Não consegui o emprego. Não consegui o aumento que queria. O relacionamento acabou" ou o que for. Se ficamos zangados por causa dessas coisas, vivemos uma vida espiritual virtual, porque estamos buscando o "é isso" no lado de fora.

Tenho analisado este assunto nos últimos 4 anos e descobri que é sempre igual. Quando a pessoa está infeliz é sempre pelo mesmo motivo. Comprove por si mesmo. É sempre igual. Se você está infeliz, é sempre pela mesma razão. É porque você quer que algo seja diferente do que é. É sempre a mesma coisa. Você é infeliz por causa disso.
Mas pense: não temos controle sobre circunstâncias externas; não podemos controlar os sentimentos dos outros. Não temos controle sobre o trânsito, se é rápido ou lento; nem o tempo, se chove ou faz sol. Mesmo assim, você permite que essas coisas o deixem feliz ou infeliz. Não ponha sua felicidade nas mãos de condições ou pessoas que estão além de seu controle. Não faz absolutamente nenhum sentido. É ridículo! É mais do que ridículo! É MUITO DOIDO!

Recentemente, aconselhei um homem que disse: "Brother, viver está me matando."
Mas não tem que ser assim.
Cristo disse: "O reino de Deus está dentro de vós." Ele não disse que está lá fora, no mundo ou nas nuvens - disse "dentro de vós".

Gostaria que todos entendessem perfeitamente o quarto ponto. Há 2 tipos de espiritualidade:
* Espiritualidade virtual e
* Epiritualidade genuína
Só a espiritualidade genuína o levará onde você quer ir.
Ter uma vida espiritual é difícil. Eu admiro muito vocês por tentarem levar uma vida espiritual no mundo louco de hoje.
O Mestre disse: "Quando você está tendo dificuldades de mudar para melhor, a companhia espiritual e outras influências elevadas são essenciais." Para mim, uma das maiores bênçãos no caminho espiritual é viver no ashram, que me dá o ambiente ideal para conseguir o que quero. Se temos um filme ou noite de confraternização para os monges, não tenho que me preocupar com a classificação do filme, etc. Vou e pronto. Se tenho alguma dificuldade ou se preciso falar sobre minhas meditações ou práticas espirituais, sempre posso conversar com um dos monges mais antigos ou então recebo ajuda de um dos companheiros de caminho. Quando estou com os outros monges, não tenho que me preocupar se a linguagem que usam vai puxar minha consciência para baixo. Às vezes a conversa pode não ser totalmente enlevante, mas pelo menos não é totalmente proibida para menores de 18 anos. Assim são os ashrams do Mestre e eles são lindos!

O ambiente é muito importante como apoio para a vida espiritual. Mesmo que você não viva num ashram, pegue os princípios espirituais da vida no ashram e crie um ambiente espiritualizado para si mesmo. Você não é obrigado a assistir filmes violentos e explícitos. Não tem que dizer palavrões para ser maneiro. Não tem que fazer essas coisas diferentes que puxam sua consciência para baixo. Ande com pessoas que o elevem. Mantenha seu ambiente físico limpo, arrumado e bonito! O Mestre era assim. Use essas coisas como apoio em suas aspirações de espiritualidade.

Falamos sobre alguns aspectos bem importantes no caminho espiritual. Podíamos ter falado sobre qualquer tema, como princípios espirituais nos relacionamentos e no trabalho, sobre êxito, sobre analisar sua paixão ou seja o que for. No entanto, alguns desses assuntos poderiam fazer você pensar que está separado de Deus. E com isso quero dizer que é exatamente sobre este tema que falamos: que você não é uma pessoa boa, nem má - e nem é uma pessoa. Você é pura consciência.
Então quero mais uma vez que todos se dêem conta disso e levem para casa quem realmente são. De tudo que falamos, aqui estão os 4 pontos principais:

1. Tudo que você quer é Deus! Nada de: "eu quero Deus, mas" Nada de: "se" e/ou "mas". "Quero Deus porque sei que isso vai me dar tudo que quero."
2.Entenda quem você é e não quem você acha que é.
3. O Mestre nos deu todas as ferramentas e todos os ensinamentos que precisamos para descobrir o Eu Divino em nós. A quietude interior e a consciência testemunha são duas ferramentas - e temos uma quarta ferramenta muito importante:
4. Há 2 estradas que você pode seguir na vida - espiritualidade virtual ou espiritualidade genuína. A escolha é sua.

Todos esses pontos podem ser basicamente resumidos em 2 citações já mencionadas, uma do Mestre e uma de Cristo. "Não deixe que a vida o engane." "O reino de Deus está dentro de vós."
"Não deixe que a vida o engane." "O reino de Deus está dentro de vós."
Desejo a todos a melhor aventura divina.

Jai Guru!

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