CASOS CLÍNICOS

Dificuldade com as mulheres



Conduzo o jovem moribundo para a morte e dai para o mundo espiritual, mostrando que qualquer ferida somente pode destruir seu corpo, mas a alma é incorruptível, imortal. Que ele deixe toda deformidade e sofrimento no corpo físico, aceitando a morte inevitável.

Ao final, peço a Armando que volte ao local referido no início da consulta e perceba seus sentimentos, seus pensamentos. Como está agora? – Muito bem, me responde. Confiante.

- Como sente seu corpo? – Ótimo e saudável, responde ele. Estou muito bem mesmo.

O terapeuta Transgeracional entende que aquilo que o paciente está dizendo é a expressão de seu sofrimento e deve ser trabalhado exatamente como tal. Sendo uma abordagem fenomenológica, busca encontrar a história inicial do sofrimento que permaneceu aprisionado na memória inconsciente da alma. Identificando, compreendendo e liberando a história por trás do sintoma, podemos auxiliar a pessoa a viver com liberdade e inteireza, sendo ela mesma e fazendo algo bom de sua vida.

Dra. Lais de Siqueira Bertoche

Desanimado e solitário, Armando acabara de chegar de uma viagem à Espanha. Imaginava que sua viagem resultaria num romance, mas sua dificuldade de se aproximar de uma mulher parecia intransponível.

Conta que desde o tempo de escola se intimida diante das pessoas. Acredita que as pessoas não queiram estar perto dele e que muitas vezes tem a impressão de que não é visto por elas. Embora Armando seja um homem atraente, alto e de porte atlético, imagina que seu corpo é feio e deformado e que as pessoas o rejeitam por isso, sentimentos que aprofundam sua vergonha e temor: - Nunca tive coragem de me aproximar de uma menina; sinto que sou repulsivo, e que as pessoas pensam que não tem cabimento esse cara se aproximar daquela garota; que eu não me enxergo.

Para mim, desde o inicio de sua fala, fica evidente que Armando não se refere a si mesmo, mas a um personagem de vida passada. O sentimento de que não é visto é muito comum àqueles que já morreram e que continuam perambulando pelo mundo físico. Como não tem corpo, não podem mesmo ser identificados pela maioria de nós: trata-se de um fantasma. A confusão de identidade corporal nos indica a mesma situação. Sendo assim, sugiro que se coloque numa posição confortável e relaxe, deixando vir naturalmente as respostas ou imagens provocadas por minhas perguntas.

Prontamente ele se percebe numa praça pública, junto com outros serviçais, contando, com orgulho, como era correspondido em suas investidas amorosas. Mas um dos jovens também estava apaixonado pela moça, e resolveu que ele não poderia impedir seus planos. Armou uma emboscada, deixando-o quase à morte, com várias fraturas e deformidades no corpo e no rosto.

O jovem viveu ainda por alguns dias, mas os traumas e as feridas causavam grande impacto, impedindo-o definitivamente, de aproximar-se das pessoas. Quem o avistava, virava a cara, e perguntavam como uma figura assim tão repulsiva tinha coragem de apresenta-se em publico, que não tinha cabimento ele mostrar-se assim. Sozinho e desamparado, o rapaz morre pouco tempo depois.

© 2019 DRA. LAÍS DE SIQUEIRA BERTOCHE. Todos os direitos reservados